O sentido dos museus

Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 31 de dezembro de 2024.

A função dos museus é assegurar, tanto a preservação como, a disponibilidade pública
de objetos e obras de arte representativos ou expressões de uma certa cultura, para
benefício de seus usuários no presente e para as gerações futuras. Eles se prestam para
a admiração do belo ou de conquistas sociais, como nos setores tecnológicos, e bem
assim para fins educacionais naquelas áreas, ou ainda para o simples deleite. A definição
oficial do ICOM trata os museus como instituições permanentes, sem fins lucrativos
serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, os quais conservam e expõem o
patrimônio material e imaterial da humanidade.

Ao contrário das bibliotecas, que existem há milhares de anos, os museus são uma
criação relativamente recente e decorrente, no Ocidente, do aumento do colecionismo e
do acúmulo de objetos em mãos da crescente burguesia. O étimo “museu” origina-se das
Musas, filhas de Zeus e de Mnemosina, a deusa da memória. A biblioteca de Alexandria
fundada no século 3 a.C., denominada de Mouseion, havia sido criada por Demétrio de
Faleros, sucessor de Alexandre, o Grande. Ela promovia a cultura grega ao reunir livros,
mas também um número muito menor de objetos.

A partir do Renascimento, os museus ficaram independentes das bibliotecas, mantendo
ainda até aos nossos dias campos de incidência em ambas as instituições, como no caso
da cartografia. Naquele período, na península Itálica, as coleções dos museus utilizadas como instrumentos educacionais, principalmente para os artistas. Então, a
maior parte das iniciativas veio da Igreja Católica, com importantes contribuições laicas,
como no caso de Lourenço, o Magnífico, em Firenze, ou dos monarcas aragoneses
Reino de Nápoles. Por volta de 1730, no Império Chinês, o imperador e poeta Ch’ienLung, da Dinastia Qing, amealhou uma extraordinária coleção de arte, posteriormente
saqueada pelos ingleses nas Guerras do Ópio.

No início, os museus europeus acolheram objetos das civilizações clássicas, diretamente,
como moedas e achados arqueológicos diversos, assim como retratos e esculturas de
figuras dignas de nota do passado. Foi assim que se estabeleceu a dicotomia do caráter
templo/escola dos museus. Coincidentemente, também em 1753, foi fundado o Museu
Britânico, que era na realidade uma biblioteca. Apenas em 1973 as 2 coleções foram
separadas. Em 1818, foi criado no Brasil, por D. João VI, o Museu Real, hoje Museu
Nacional, o primeiro de 3.025 instituições do gênero no País.

O acervo de um museu é apresentado e evolui de diversas maneiras. De fato, ele pode
ser exposto em ordem cronológica, por ambientes culturais, por temas, por tipologias,
pela classe de materiais, de acordo com as preferências ou estilos de uma época, e em
linhas biográficas de um dado personagem. Sua exposição deve levar em consideração
configurações horizontais e verticais do local, a luz ambiente, o apoio das obras,
elementos de proteção e ainda as informações didáticas.

Os museus são um serviço público que faculta a admiração do belo, promove a cultura,
ao mesmo tempo que nos permite conhecer e estudar o passado, entender o presente e
até vislumbrar o futuro. Um povo civilizado cria, financia, cuida e promove os se
museus e, através deles, educa as futuras gerações.

DURVAL DE NORONHA GOYOS JR., Jurista e escritor. Ex-presidente da União
Brasileira de Escritores (UBE). Membro da Academia de Letras de Portugal. Diretor
internacional do Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo. Escreve
quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras
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