Publicado no jornal Diário da Região, São José do Rio Preto, SP, 15 de janeiro de 2025.
Donald Trump tomará posse como presidente dos Estados Unidos da América (EUA) no
dia 20 de janeiro de 2025, com um mandato de 4 anos, precedido por uma retórica
inflamatória, a qual agrava a já precária situação mundial e ameaça a ordem jurídica
internacional instituída há 70 anos, com a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) e, posteriormente, ampliada com novos tratados e organismos multilaterais. Se é
verdade que, como observou Luiz Alberto Moniz Bandeira, o nosso maior historiador,
com a globalização, os acontecimentos políticos e sociais quase sempre estiveram
interconectados, aqueles atinentes aos EUA têm ainda maior significado, pe
desmedido poder exercido pelo país.
Mesmo antes da posse, Trump já começou a desestabilizar as relações internacionais. De
fato, o preceito “America first”, por ele esposado, não significa colocar o povo americano
como prioridade, o que seria natural, mas sim os EUA acima da ordem jurídica
internacional, destruindo-a por completo. Neste sentido, o presidente eleito promete
acabar com os tratados da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao repudiar a
ordem tarifária da cláusula da nação mais favorecida. O mesmo ocorre com relação à
ALCA, supostamente para proteger o comércio dos EUA. Países como o Brasil seriam
punidos por não comprar o suficiente daquele país.
Na área ambiental, Trump já anunciou pretender retirar os EUA do Tratado de Paris de
2015, que dispõe sobre mudança climática. No setor de defesa, ele propõe aumentar os
gastos, alimentando uma nova corrida armamentista. Ele também anunciou a intenção
de retirar os EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na política externa, no
exercício do arbítrio nas relações internacionais, ele persistirá no apoio ao genocídio
israelense contra o povo palestino, bem como com ações de desestabilização de
terceiros países, sempre que julgar necessário.
Trump elegeu a República Popular da China como principal inimigo dos EUA. A aparente
paranoia é, na realidade, o reconhecimento de que o país asiático está prestes a
ultrapassar o seu na área econômica, social, humanística e tecnológica. Para tanto, o
presidente-eleito americano pretende reverter o processo, recorrendo, se necessário à
guerra. Trump já anunciou pretender elevar as tarifas dos produtos chineses para 60%,
aumentando ilegalmente em 60 vezes o perfil tarifário dos EUA consolidado na OMS.
Por sua vez, o presidente da China, Xi Jinping, observou com sobriedade que “na direta
medida do progresso chinês, nossos problemas aumentarão, maiores serão nossos riscos
e mais imprevisíveis serão os desafios que encontraremos”. É importante que, no Brasi
também nós estejamos alertas às consequências diretas da radicalização da política
externa americana, tanto nas relações bilaterais como nas implicações do agravamento
da situação mundial e ao espectro da total dominação.
DURVAL DE NORONHA GOYOS JR., Jurista, professor, escritor e historiador. Foi
diplomata. Autor de “O Crepúsculo do Império e a Aurora da China”. Escreve
quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras