Publicado na versão eletrôncia no sítio JC On Line (http://www.jc.uol.com.br), bem como na versão impressa no Jornal “O Commercio de Pernambuco”, Pernambuco – Brasil, 29 de abril de 2007.
Por muitos anos, desde o início da década de 90, economistas pouco comprometidos com os melhores interesses estratégicos do país, com um déficit de honestidade, ou ainda desprovidos de competência técnica, quando não pela combinação de todos os fatores antecedentes, conseguiram imprimir, a sucessivos governos brasileiros, a insana lógica da âncora cambial.
Segundo o pensamento de tais economistas, um câmbio sobrevalorizado facilitaria a importação de produtos estrangeiros, assim contribuindo de maneira decisiva para o controle da inflação. Muito embora tal política viesse a sacrificar a economia formal brasileira, ela veio a ser aceita por governos incapazes de controlar a inflação mediante a eficiência da gestão pública.
Assim, desde o início de sua utilização, a âncora cambial mostrou-se ruim para os interesses estratégicos brasileiros, pois, de um lado, desestimulava a eficiência do setor público e, de outro, tirava a competitividade do setor privado nacional, prejudicando a atividade econômica interna e a criação de empregos.
Com a apreciação do preço internacional das mercadorias agrícolas, havida a partir de 2002, a situação curiosamente agravou-se, pois o Brasil passou a gerar importantes saldos comerciais, já que a acentuada competitividade do setor rural pátrio o tornava menos vulnerável à sobrevalorização cambial.
Dessa maneira, com importantes reservas cambiais, o país pode comprar largamente produtos industrializados e serviços do exterior. Ocorre, todavia, que, de acordo com o último censo do IBGE, o setor de serviços brasileiro responde por nada menos de 64% do PIB brasileiro, ao passo que a indústria e agricultura representam, cada qual, 18%.
Com uma sobrevalorização cambial de aproximadamente 25%, 82% da economia nacional não mais conseguem competir com produtos industrializados e serviços importados. A tarifa média brasileira, de 12%, não mais protege a indústria nacional e seus concorrentes estrangeiros têm um verdadeiro subsídio do governo brasileiro, da ordem de 13%, para aniquilar a atividade industrial doméstica. É um caso único no mundo, já que normalmente subsidia-se os nacionais contra os estrangeiros.
Como resultado, as empresas nacionais estão engajadas num firme mas consistente movimento de investimentos no exterior, para prover o próprio mercado brasileiro. Com isso, deixam de ser criados os 3,6 milhões de empregos anuais necessários no Brasil e, muito importante, posições de qualidade mediana e superior no setor de serviços.
Para que tal patamar seja atingido, mas sem garantir a excelência qualitativa, faz-se necessário que o PIB brasileiro cresça a 5,4%, segundo estudo realizado por Márcio Pochmann, da Unicamp. É certo que uma política cambial realista no Brasil asseguraria, ao menos, o referido resultado, à semelhança de outros países em desenvolvimento.
Enquanto isso, a miséria impulsionada pela infame e tresloucada política da âncora cambial faz com que as atividades ligadas à segurança sejam as maiores empregadoras do Brasil. Apenas na cidade de São Paulo, cerca de 10% dos empregos são ligados a essa área.
Se somados aos empregos marginais, aqueles gerados pela criminalidade organizada ou semi-organizada, constata-se que os efeitos da âncora cambial são não apenas socialmente perversos, mas devastadores.
Dedicado à memória do governador Miguel Arraes, que sempre teve presente o interesse nacional